
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, resolveu se fazer de louco para ar bem com o eleitorado bolsonarista. Disse que a ditadura militar é “questão de interpretação” e prometeu indulto a Jair Bolsonaro caso chegue à presidência da República. Dois movimentos calculados, e perigosos.
A ditadura não é uma dúvida histórica. É um fato: começou com um golpe em 1964, perseguiu, censurou, torturou, matou e ocultou cadáveres. O AI-5 suspendeu o habeas corpus, fechou o Congresso, institucionalizou a repressão e trocou ministros do Supremo.
Isso está nos documentos, nos processos, nos relatos dos sobreviventes e nos registros oficiais do próprio Estado brasileiro. Fingir que isso não existiu é brincar com o sangue de muitos brasileiros.
Zema sabe disso. Mas prefere posar de “gestor técnico” enquanto radicaliza o discurso para disputar o espólio bolsonarista. Já tinha feito isso antes, ao elogiar Bukele em El Salvador e citar o argentino Javier Milei como inspiração. Agora, com mais força, se junta a uma fila que já tem personagens como Ronaldo Caiado — que também prometeu indulto a Bolsonaro meses atrás.
A promessa virou moeda de troca: quem quiser agradar o bolsonarismo raiz, precisa relativizar o ado e acenar para o autoritarismo. Mas essa disputa, em vez de fortalecer a direita, tem revelado sua fragmentação. Com cada um tentando parecer mais fiel que o outro, o grupo se divide, se contradiz e se anula.
E nesse racha, quem pode ganhar é Lula. Mesmo com popularidade em baixa, o presidente pode se beneficiar da desorganização dos adversários — sobretudo se eles insistirem em fazer campanha olhando pelo retrovisor.