Marcello Antony: inimizade com autor e por que é ‘difícil’ voltar à Globo 4z1366
Ator, atuando hoje no ramo imobiliário em Portugal, conversa com a coluna GENTE 2r71j

Marcello Antony, 60 anos, ficou de 1996 a 2014 na TV Globo – sua última novela foi Amor à Vida. E lá se vão 11 anos. Hoje mora em Lisboa com a família e vive como corretor de imóveis de luxo. Ainda tira proveito da fama. Seus clientes o reconhecem aos montes, inclusive os estrangeiros. Tudo graças ao alcance das boas novelas que fez. Nos tempos que 40 pontos de audiência eram corriqueiros na emissora. Em conversa com a coluna GENTE, Marcello relatou sua rotina em Portugal, sua reação ao saber que dois dos seus cinco filhos começaram a trabalhar como entregadores de comida, e por que criou “inimizade” com João Emanuel Carneiro e Ricardo Waddington.
FAMA EM VÁRIOS PAÍSES. “Rússia, todos os países latinos, os angolanos, caboverdianos, moçambiquenhos, os de língua portuguesa… Lembro que na pandemia estava de máscara, boné e óculos. Um angolano ou por mim: ‘olha lá o Marcelo’. Nem a minha mulher estava me reconhecendo (risos). Isso é por causa do poder da novela. A novela brasileira tem penetração absurda. Engraçado, vai fazer sete anos que estou aqui em Lisboa. Não é exagero o que vou falar. Estou em reprise uma novela atrás da outra. O Rei do Gado já ou duas vezes. Senhora do Destino, várias vezes. Mulheres Apaixonadas também, Terra Nostra outras tantas. Tive a sorte de fazer grandes folhetins”.
FATORES PARA CRISE DAS NOVELAS. “É um conjunto de fatores. Foram fundamentais para essa diluição a entrada do streaming e da rede social. Hoje é difícil explicar para uma geração bem nova o que é ‘a seguir cenas dos próximos capítulos’. Por que só amanhã posso saber o que vai acontecer? Hoje se assiste a tudo quando quer. Junto a isso, o afastamento em massa de todos os profissionais, não só atores, mas diretores e técnicos, o que baixou a qualidade”.
POLARIZAÇÃO DO BRASIL. “Na polarização, se puxa para um lado, metade do Brasil já não assiste. Se for para o outro lado, a outra metade do Brasil não assiste. Antigamente, por exemplo, Rei do Gado trouxe a questão do MST. Ia para a sociedade como uma discussão. Hoje, não. Se você puxa o MST, não tem discussão. Tem só bandeira. Uma metade vai querer, outra metade não. Ou é ou não é”.
SAÍDA DO BRASIL. “Saí pelo clichê básico: por segurança. Não me sentia seguro e à vontade de criar meus filhos nesse tipo de sociedade. De ser assaltado, de tomar tapa na cara de policial”.
DECISÃO FAMILIAR. “Meu agente me ligou e falou: ‘Marcelo, tem uma emissora portuguesa te convidando para uma telenovela’. Aí olhei para minha mulher: ‘vamos?’. Em dois meses cheguei com 16 malas em Portugal, e estou até hoje. Já vim na intenção de ficar. Antes reuni meus filhos: ‘vocês topam?’. Eles podiam falar: ‘não’. Não ia ficar à vontade de ficar 10 meses longe da família. Eu sou muito família. Todos quiseram vir. Todo mundo se adaptou, eles perceberam a segurança. Foi nítido no primeiro mês a coisa de poder andar com o celular na rua de noite”.
CORRETOR DE IMÓVEIS DE LUXO. “Um amigo que me apresentou a um CEO de uma agência americana, a The Agency, que é do Maurício Mansky, da Califórnia; onde fizeram o Buying Beverly Hills na Netflix, sobre o dia a dia dos corretores de alto luxo. The Agency expandiu para o mundo, tem em mais de 30 países. E o CEO da The Agency Portugal fez o convite de trabalhar para eles. Achei interessante”.
MERCADO AGRESSIVO. “São imóveis de luxo, mas trabalhamos também imóveis de mais baixo valor, cerca de 600 mil euros. O mercado está agressivo, os milionários estão vindo de todo canto do mundo. Portugal se tornou lugar de moda, não só para o Brasil. Há dois anos, os americanos não figuravam entre o top 5 de investidores. Hoje são o segundo lugar em que mais investem. O brasileiro sempre foi o primeiro. Na primeira casa que fui, 4 milhões e meio de euros. Eu falava assim: ‘caramba, não vai ter gente para comprar’. Cara, tem, as pessoas brigam”.
FOTO COM CLIENTES. “Lembro da minha segunda visita a um imóvel, apartamento de uma proprietária russa e um cliente americano. Quando ela me viu, arregalou os olhos. E eu na hora, macaco velho, pensei: ‘me reconheceu’. Mas ela não falou nada. Aí mostramos o imóvel ao americano, fez o tour pela casa e, na saída, ela falou em inglês se podia tirar uma foto comigo. É direto isso. Moro em Cascais, é tipo filial do Rio de Janeiro. Toda hora alguém me para”.
FILHOS TRABALHANDO DE UBER EATS. “Não foi uma imposição minha, de jeito nenhum. Lucas e Louis, meus enteados, filhos da Carol, me comunicaram. Do nada, Lucas: ‘estou fazendo faxina na casa de americanos’. E Louis: ‘estou eando com os cachorros dos ingleses’. Eles começaram a ganhar 60 euros aqui, 80 euros ali… Começaram a gostar de ter dinheiro. Os dois se mudaram para a Holanda, estão trabalhando de Uber Eats, de bicicleta. Portugal não é país para fazer dinheiro. Na Holanda, o salário mínimo é 2 mil e blau. Eles fazem muito dinheiro. Eles nunca fariam isso no Brasil. Francisco, meu ouro filho, é auxiliar de cozinha numa rede de comida natureba, a Honest Greens. Já está quase virando chefe do staff”.
VOLTA À GLOBO. “Acho difícil, porque as coisas mudaram. Bom, primeiro, dependo de convite, né? Não é uma coisa que falo: ‘pô, dá para eu trabalhar?’. Não, as pessoas me conhecem. É óbvio que o custo de me trazer daqui para lá inviabiliza as coisas. Hoje eu não faria. Só se fosse muito desafiador. Sou movido pelo desafio. Se for desafiador, a gente até abdica de algumas coisas. Virou uma chave”.
PULANDO DE HORÁRIO. “Teve uma época que eu estava… Não é de saco cheio, mas… Cansado de fofoca, não queria ficar no centro das atenções. E o Ricardo Waddington me chamou pra fazer o Doda em A Favorita, do João Emanuel Carneiro, que Murilo Benício fez de cabelo louro. Só que ao mesmo tempo soube que iam fazer um remake de Ciranda de Pedra, novela das seis. Seriamos eu, Daniel Dantas e Ana Paula Arósio. Recebi os dois convites. Fui numa reunião com o Mário Lúcio Vaz e pedi para fazer a novela das seis. E ele: ‘Marcelo, estou há não sei quantos anos na Globo. Você é o primeiro que me pede para fazer novela das seis e não das oito’. Aí ele liberou. Só que nisso criei inimizades. João Emanuel e Ricardo Waddington a partir daquele momento me vetaram de tudo. Os egos lá dentro enterraram qualquer possibilidade de convites futuros com eles. Mas faz parte do jogo. Trabalhar com TV é istrar egos. Fiquei mais tranquilo ali na periferia, não estava no centro das confusões”.