Quero ser grande: por que a procura por SUVs compactos aumenta no país 1q6xq
Há uma nova onda no Brasil, no vácuo do que já acontece pelo mundo 254k2q

O mercado automotivo brasileiro vem ando por acelerada transformação nos últimos anos. O segmento dos carros populares, modelos mais simples que abriam mão de funcionalidades em nome do preço reduzido, praticamente desapareceu. Os modelos hatch, de carroceria compacta, também perderam espaço, assim como os sedãs, valorizados por quem precisava de um porta-malas grande e mais espaço para a família. De quem é a culpa no cartório da estrondosa reviravolta? Os SUVs, os utilitários esportivos que se impõem pelo tamanho. Hoje, representam mais da metade dos emplacamentos no Brasil. É tendência, a bem da verdade, global.
De forma a tentar ampliar o alcance da receita bem-sucedida, as montadoras aram a investir em versões mais enxutas desses gigantes, criando uma nova linha de negócios: a dos chamados SUVs compactos. Os fabricantes apostam nesse contingente de carros, nem tão grandalhões no tamanho, embora possam ser exagerados no preço — não menos de 100 000 reais. O principal lançamento do momento é o Tera, da Volkswagen. “Nasce com a enorme responsabilidade de se tornar líder de vendas”, disse Ciro Possobom, CEO e presidente da empresa, na apresentação do modelo. O veículo foi desenvolvido pela equipe brasileira de olho nos negócios de cá, mas atenta a oportunidades de vendas em outros países da América Latina e até da África, onde será comercializado no futuro. Com um detalhe crucial: há embutido nele um inédito sistema de inteligência artificial, o primeiro criado por uma montadora brasileira. De acordo com as expectativas muito otimistas da marca, o Tera pode até repetir o sucesso do Fusca, que vendeu mais de 3 milhões de unidades, e mesmo do Gol, que chegou aos 7 milhões. Exageros à parte, o potencial de vendas é inegável. A comparação é com o T-Cross, primo maior e mais caro do Tera. SUV mais vendido do Brasil, o T-Cross bateu a marca de 500 000 unidades comercializadas desde seu lançamento, em 2019.

A briga principal do promissor Tera é contra outros dois modelos do segmento: o Pulse, da Fiat, e o Kardian, da Renault. Lançado em 2021, o Pulse foi o primeiro SUV da montadora italiana conhecida por seus veículos de grande volume de vendas, como o Palio, o Uno e o Argo. E o Kardian veio para substituir o Sandero, muito popular por aqui, mas também com a proposta de ser um SUV compacto. Apesar do bom pacote de tecnologias e do visual renovado, não vendeu tanto. Foram apenas 50 000 unidades, ante 150 000 do Pulse. Todos, insista-se, põem as fichas em tecnologias como telas conectadas, funções de segurança e principalmente motores turbo, mais potentes que os tradicionais aspirados, ganho de desempenho fundamental para dar agilidade aos carros nos trajetos urbanos.
No ano que vem, outro filhote da atual onda entrará na briga. É o Avenger, menor modelo já criado pela Jeep, marca americana conhecida pelos desenhos de vocação aventureira. O Avenger já é vendido na Europa, e por lá anseia pelo topo do ranking. Em abril, ficou atrás apenas do Fiat Panda, outro compacto redesenhado recentemente.

A disputa é relevante por revelar como as categorias do mercado vão se adaptando aos tempos. Há trinta anos, SUVs eram considerados apenas por gente do campo, do agronegócio e da turma do pé na estrada. Em um movimento curioso, depois de um tempo, o mercado ganhou corpo com a adesão de compradores que am a vida sem acionar a tração 4×4, utilizando esses carrões apenas em trajetos urbanos. Por serem veículos mais altos e robustos, conferem sensação de segurança aos motoristas e, de quebra, seduzem quem considera um status guiar um grandalhão luxuoso por aí. Os SUVs compactos crescem pegando o vácuo desse sucesso.
Publicado em VEJA de 30 de maio de 2025, edição nº 2946